quarta-feira, 25 de maio de 2011

As vertentes contemporâneas da educação ambiental

Por Heverthon Rocha

Educação ambiental comportamental é voltada para crianças
A educação ambiental está em acelerado processo de institucionalização por todo o mundo, no Brasil, somente em 1999 é que se instituiu uma lei específica. Percebemos que ela vem ganhando notoriedade e a adesão de inúmeros setores da sociedade. Mas também entendemos que não existem formas específicas de aplicação da educação ambiental, ou seja, uma receita padrão, uma fórmula mágica ou de sucesso absoluto que não apresente falhas. Existe sim uma carência de desenvolvimento de um método uniforme para a aplicação da educação ambiental forma prática e eficaz, respeitando suas variabilidades de vertentes.

Em uma cidade como Natal, por exemplo, onde a educação ambiental é uma realidade – mesmo que tímida – parece que os cidadãos não a percebem, e sempre que podem, cobram dos gestores públicos ações voltadas para conscientização e sensibilização no que diz respeito a preservação do meio ambiente, do uso racional dos recursos naturais e esclarecimento das necessidades e benefícios do saneamento básico.

No entanto, percebemos também que a mesma população que cobra, é a que não pratica a educação ambiental. Esta parcela da população acredita que o fato de cobrar já é o suficiente, cabendo ao poder público fazer o resto. Entretanto, não é assim que a participação popular funciona. A responsabilidade popular vai muito além.

A Constituição Federal em seu já conhecido e tão mencionado Artigo 225, que trata e estabelece o direito ao meio ambiente como sendo de todos, explica as competências de cada um na preservação do meio ambiente, “impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

O Dicionário Aurélio traz a seguinte definição para coletividade: “Grupo ou agrupamento de pessoas relativamente organizado para um fim. A totalidade dos indivíduos de determinada área ou região, em um dado tempo, se considerados como um todo”. Partindo desta definição podemos entender que na verdade existe uma responsabilidade compartilhada, onde todos são agentes de preservação do meio ambiente, e consequentemente pela promoção da educação ambiental.

Além disso, a Lei Federal nº 9.795/99 diz que educação ambiental são os processos “por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente”. Sendo que a sociedade incumbe-se “manter atenção permanente à formação de valores [...] e a solução de problemas ambientais”.

Para realização da educação ambiental, existem na prática, três linhas predominantes de orientação. São elas a conservacionista, a comportamental e a socioambiental. Cada uma com uma característica exclusiva, mas que representou ou representa um importante avança na proteção e conservação dos ecossistemas, partindo de uma visão conservacionista.

O conservacionismo defende que o meio ambiente é tão somente o natural, ou seja, tudo aquilo que nasce de forma espontânea, sem a interferência do homem. Esta vertente tem uma concepção naturalista, ou seja, não considera que os seres humanos façam parte do meio ambiente e busca tão somente a conservação do natural.

Para Ana Rosa Salvalagio, assistente social graduada pela Unioeste (Paraná) e participante do Programa de Formação de Educadores Ambientais (FEA-MA) “Faz-se necessário tratar da transição da educação conservacionista para a educação ambiental, sendo que na educação conservacionista o foco é no ambiente não humano e na Educação ambiental há a articulação entre o mundo natural e o social”.

Esta abordagem naturalista é ainda muito forte nos países de primeiro mundo, ou desenvolvidos, tais como Estados Unidos, Austrália, Canadá e países da Europa. Para os que são adeptos do conservacionismo, o meio ambiente é meramente um sinônimo de natureza, sendo o homem um ser a parte, que faz oposição ao meio natural.

Entre conscientizar e sensibilizar está a vertente comportamental da educação ambiental. Segundo o Dicionário Aurélio, a primeira significa “dar ou tomar consciência”, ou seja, “a capacidade de conhecer e julgar sua própria realidade; senso de responsabilidade”, e a segunda visa “tornar sensível, comover”, estimulando a “capacidade de sentir”.

Com base na sensibilização se ampara a abordagem comportamental, que prioriza as ações de educação ambiental voltadas para as crianças, que encontram-se em processo de formação cognitiva, mais suscetíveis ao recebimento, processamento e fixação do saber ambiental.

Para a psicóloga e doutora em educação, Isabel Cristina de Moura Carvalho, “supõe-se que nelas [nas crianças] a consciência ambiental pode ser internalizada e traduzida em comportamentos de forma mais bem sucedidas do que nos adultos”.

A educação ambiental com vertente comportamental também está inserida na socioambiental, pois leva em consideração a relações entre homem e natureza, por isso ela representa o ponto de transição entre o conservacionismo e o socioambiental.

A vertente socioambiental é aquela que defende o caráter perene da educação ambiental, transpondo as barreiras do agora, do imediatismo e levando o conhecimento pelo tempo até as gerações futuras. É a vertente contemporânea que vem ganhando mais espaço, pois insere o homem no meio ambiente, considerando-o como parte do todo. Esta abordagem leva em consideração as inter-relações existentes entre o homem e a natureza, entendendo que todos estão inseridos no meio ambiente, partindo do entendimento de que o homem tem a capacidade de construir e transformar o ambiente.

Na prática da educação ambiental sob a ótica socioambiental são priorizados os aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos, com objetivos voltados ao desenvolvimento sustentável e a formação de uma educação ambiental crítica e construtiva.

É certo que hoje os seres humanos se sentem inseridos no meio ambiente como um componente que pode representar um impacto positivo ou negativo. Um ser que com capacidade de interação, possibilitando a troca constante de energias, nutrientes, experiências, etc, quer seja construindo, destruindo ou modificando os ambientes.

Nesta luta sem fim por um mundo sustentável, deve-se abraçar a educação ambiental como instrumento transformador dos hábitos humanos. É fundamental entender que o coletivo é significante para proteção do meio ambiente, mas que as ações individuais são importantíssimas para o sucesso da coletividade. Cada cidadão é o fiscal de suas próprias ações, é o seu educador ambiental pessoal.

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