Por Frei Betto
Jornal GGN
Rubem Alves ensinou a diferença
entre professores e educadores. Os primeiros, como eucaliptos, crescem retos e
esgotam o solo em seu entorno. Reproduzem conhecimentos de outros sem crítica,
e não entendem a crítica ao próprio conhecimento. Repetem e obrigam os outros a
repetir aquilo a que um dia também foram obrigados a aprender. Não criam, e
impedem outros de criar.
Já os educadores, esses sim quebram
as regras e se entusiasmam ao observar a maravilha da criação que se dá pela
troca, não pelo acúmulo; pela construção, não pela repetição.
Paulo Freire talvez tenha sido o
mais pródigo exemplo dessa relação dialética entre aprendiz e mestre. O que
produz o aprendizado e o conhecimento é a troca. Quando ensino, aprendo, é só
aprendo porque também ensino.
Essa via de mão dupla é o que rege o
mundo e permite que nós, seres humanos, possamos transcender. Mas nenhum
conhecimento é neutro. Pelo contrário, a cabeça sempre pensa onde os pés pisam.
E só se aprende e ensina aquilo que se vive. A vida é a matéria-prima do saber.
Entre muitos mestres que se destacam
no Brasil, merece relevância Paul Singer.
Ele veio de fora do país, fugido do
nazismo, e aqui fincou raízes profundas. Na juventude, irmanou-se à classe
trabalhadora militando em movimentos progressistas. Jovem, filiou-se ao Partido
Socialista e participou da greve dos 100 mil na condição de operário. Somente
depois de ser trabalhador e militante atravessou a fronteira para ingressar na
academia, onde se tornou pesquisador e professor.
Como educador, sempre procurou o
contraditório, o pensamento radical e profundo. E desse lugar de intelectual
orgânico fez sombra para que gerações de militantes e intelectuais se
formassem.
Durante a ditadura militar, preso e
compulsoriamente aposentado, ao se ver livre deu aulas clandestinas em São
Paulo para formar especialistas em economia política.
Paul Singer soube fazer da vida
constante aprendizado e, aos 70 anos, se reinventou ao se dedicar à economia
solidária. Foi o primeiro tradutor de O capital, de Marx, no
Brasil, e participou do grupo de estudos dedicado a esta obra clássica,
coordenado pelo professor Florestan Fernandes.
Singer é um dos fundadores do
Partido dos Trabalhadores, do Cebrap, e muitas outras instituições que, nas
últimas décadas, se voltaram à defesa dos direitos dos excluídos. Nos governos
do PT, atuou por 13 anos como Secretário Nacional de Economia Solidária, uma
década depois de ter sido secretário de Planejamento da prefeitura de São
Paulo, na gestão de Luiza Erundina.
Sua história merece ser contada.
Precisa virar filme para que as novas e futuras gerações conheçam e aprendam
sobre o Brasil e o mundo no olhar dessa pessoa profundamente humana que é Paul
Singer. Este é o projeto que o diretor Ugo Giorgetti se propõe a levar adiante
no filme Paul Singer, uma história do Brasil.
Para apoiar a realização deste
projeto militante e torná-lo realidade é preciso um mutirão solidário.
Portanto, participe e colabore! Visite a página da campanha no Catarse: www.catarse.me/paulsinger
Frei Betto é escritor, autor de “Ofício de escrever” (Anfiteatro), entre
outros livros.
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