Confesso que a carga de campanhas
publicitarias disparadas nos mais variados meios de comunicação até que me
atraíram. Digo mais, quase me convenceram de que tudo sairia bem. Cheguei a
pensar que a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável,
ou Rio+20, seria o início das soluções dos problemas ambientais que vem sendo
discutidos exaustivamente desde a Rio92, que fracassou. Mas não foi.
Participei durante quatro
exaustivos dias dos “Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável”, evento
oficial da Rio+20, que aconteceu no Riocentro entre os dias 16 e 19 de junho.
Na plenária estavam cerca de dois mil representantes da sociedade civil, eu fui
um deles. Os textos apresentados, já formatados, sem possibilidade real de
mudanças, nos eram apesentados para que utopicamente escolhêssemos as
prioridades. De cada tema eram apresentadas dez recomendações, das quais
deveríamos votar em três. Que legal! Pensei vibrante. Era a democracia na
prática. Balela. Tudo já estava decidido. Nós votávamos e não escolhíamos nada.
Temas importantes como
resíduos sólidos, padrões de consumo e descarte de resíduos, educação
ambiental, coleta seletiva e a própria reciclagem, temas que de minha
perspectiva de gestor ambiental, representam os grandes males e respectivas
soluções para os problemas da vida moderna.
O que não faltou mesmo foram
propostas para criar comissões e realizar novas conferências. Num mundo onde,
quem não quer resolver nada, monta comissão ou faz reunião, é um prato cheio. O
Brasil que o diga, com tantas CPIs que acabam em pizza, feijoada, rabada aos
banhos de cachoeira e pagas com mensalão.
A tão esperada conferência
foi na verdade uma aparente oportunidade para que chefes de estado pudessem,
oficialmente, se reunirem e fazerem turismo pela segura, ao menos nestes dias,
Cidade Maravilhosa.
Na madrugada do dia 19,
direta das redes sociais, vinham as notícias que os cabeças do evento, estavam
reunidos, as 2 horas daquela madrugada fria carioca com um texto pronto. O que
não havia sido feito em 20 longos anos, ficou pronto numa madrugada.
“Fracasso de lideranças” e
“insípido” foram algumas das classificações apresentadas ao final da
Conferência, que para mim, fracassou antes mesmo de começar. Fracassou quando
não permitiu a participação mais ampla da sociedade na construção do texto base
da Rio+20. Quando não possibilitou diálogos que garantissem o valor do voto da
sociedade civil. O que se ouvia dos moderadores era que essa ou aquela
recomendação já estava aprovada. Por quem? Quando? Como? Um mistério que
ninguém viu.
Para este gestor ambiental,
ambientalista convicto e que muitas vezes é rotulado de eco-chato, que vos
escreve, a frase que melhor resumiu a Rio+20 foi a do vice-premiê britânico,
Nick Clegg, quando disse que: “Este é um daqueles momentos únicos em uma geração,
quando o mundo precisa de visão, compromisso e, acima de tudo, liderança.
Tristemente, o documento atual é um fracasso de liderança”.
Bom mesmo estava lá no
Aterro do Flamengo. Com os jovens cantando, os índios dançando e os povos em
sua cúpula vendo tudo passar sem se dar conta que nada vai mudar. Uma multidão
de pessoas que buscaram entender a história da humanidade, mensurar a sua
pegada ecológica ou somente ver os belos trabalhos apresentados no Forte de
Copacabana. Tudo passou e nada ficou. Talvez belas fotos. Boas lembranças. Mas
e o meio ambiente? Esse deixa que vamos discutir na Rio+40.
Então foi isso que vi, ou
melhor, o que não consegui ver durante a Rio+20. Se me perguntarem: Como assim?
Empossar-me-ia, mesmo que temporariamente, das palavras de um sábio nordestino,
nascido das ideias de Ariano Suassuna e eternizado na obra O Auto da
Compadecida, o Chicó, e responderia: "Não sei, só sei que foi assim".
.
.